quinta-feira, 1 de outubro de 2009

PORQUE DECORAR? (1998)




Qual seu conceito, origem e história? A palavra tem origem na antiga Roma- decoratione- mas seu conceito remonta aos egípcios. Curiosamente, de todas as línguas neolatinas, o italiano é o único idioma que utiliza outra palavra para a idéia: arrendamento. O inglês, a mais importante língua do mundo moderno, também a utiliza - decoration.Decorar, como precisa o importante historiador, poeta, etc, Edward Lucie-Smith - Furniture: a Concise History ,Thames and Hudson , em termos históricos , era uma tarefa supérflua. Claro, os povos nômades, dos quais descendemos, não tinham essa preocupação. Depois, surgiram a casa, os templos, os palácios,etc.Na sua primeira e mais conhecida acepção, decorar significa embelezar. Uma simples observação da cadeira e escabelo (footstool, ottoman) na tumba de Tutakamon deixa claro esse aspecto. Havia a preocupação nítida de decorar o objeto, ou seja, a cadeira. Assim, decorar significava ornamentar móveis, vasos, ânforas,etc ;ntroduzir neles uma série de novas linhas, ornatos em baixo ou alto relevo.Em algumas ocasiões, utilizavam-se materiais diferentes para essa finalidade. Ou enatão, como no caso de peças feitas de madeira, combinavam-se diferentes variedades, cabendo a mais nobre, por exemplo o ébano, a função de ornato. De qualquer forma, o leitmotiv era a elaboração de um efeito visual que proporcionase prazer e conforto espiritual.Em algumas oportunidades, como por exemplo nos afrescos ou ânforas, os motivos eram relatos de grandes feitos humanos ou tragédias - como guerras, conquistas, etc. Nestes casos, constituiram peças fundamentais para a compreensão da história humana. Esta é, sem dúvida, a sua primeira e mais comum acepção.Mas, o que leva o homem a criar obras de arte? H. W. Janson, na sua monumenntal obra A História da Arte (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa,1989) afirma que a arte tem origem na necessidade do homen de decorar, enfeitar o mundo que o cerca, embelezar sua vida e a do seu habitat.. Os afrescos - desenhos, nas cavernas, são testemunhos incontestá¡veis, desde os primórdios, de tal raciocínio. Nesse sentido , a necessidade humana da decoração termina por desdobrar-se em artes maiores: a pintura e escultura. É a mater.Avancemos uim pouco no seu conceito e história. No princípio, os primeiros objetos foram as cadeiras, escabelos, baús e camas. A cadeira era símbolo de poder e daí, creio, o escabelo era uma necessidade para igualar, na horizontal, a visão do superior à do subordinado. Posteriormente, ele cairá em desuso. A história da decoração, nos seus primórrdios, confunde-se com a do mobiliário. E, é claro que assim o seja pois, o mobiliário foi e continua sendo o elemento essencial na decoração.A Idade Média nada nos deixou de interessante nesse campo. O século XV, além do nascimento da imprensa, por Gutemberg, nos trouxe a descoberta da mesa para comer como objeto essencial, e da tapeçaria. Parece-me que a bancada de trabalho, mesa alta própria para trabalhos manuais em pé, antecedeu a idéia da mesa para comer. O uso do garfo surge oficialmente com Henrique III, em 1536 . O quadro de Leonardo da Vinci sobre a Santa Ceia os confunde. Na época de Cristo , não havia mesa para refeições.E a relação entre arquitetura e decoração? Questão delicada, porém me atreveria a afirmar que a arquitetura é a sua mestra ou, expressando-me melhor, seu conjunto de restrições. Os arcos romanos - bizantinos - e góticos expressavm a dificuldade do homem para vencer as forças de tração na flexão! Uma curiosidade histórica da engenharia estrutural. Depois, com o o aço e o concreto armado, os vãos tornaram-se realmente livres, permitindo novos vôos para construtores , arquitetos e decoradores de interiores.A decoraçao ,propriamente dita, surge apenas após o Renascimento. Caberia destacar especialmente o empenho, nesse sentido, dos reis Líuises da França- Luís XIV, XV e XVI. E, em particular, Luís XIV, o Rei Sol, construtor do magnífico Palácio de Versailles.O mais importante significado da decoração no mundo moderno partece-me que é tentar dar equilíbrio e harmonia a um conjunto de peças, cores, ,objetos, obras de arte,etc, com formas e texturas diversas, concebidas quase sempre em diferentes contextos históricos (denominados estilos, em outras palavras, épicos) dentro de um determinado espaço ( definido por piso, paredes e teto - o contorno, enfim- no caso da decoração de interiores) tendo por finalidade dar conforto e prazer a quem utiuliza o ambiente. Tarefa nada fácil. Sobretudo, num mundo de mudanças tão rápidas.Novas necessidades embasadas em novos materiais e tecnologias surgem do dia para a noite. A eletricidade, o telefone, a televisão, o computador,etc. Além disso, os hábitos, no decorrer do desenvolvimento sócio-econômico, mudam e surgem os bares, restaurantes e hoteis. A casa tem que mudar, apesar de sua natural associação com o ventre materno. É a vida. Como bem precisou Gardel, nada é eterno. Eis aí a questão. A premissa para esses argumentos é a de tratar-se de sociedades com certo nível de desenvolvimento social e cultural, pois, como bem afirmam os autores de World Furniture (editado por Noel Rilev, New Jersey,1989) "furniture is a better cultural barometer than either" (os móveis são, dentre todos, o melhor barômetro cultural).A decoração aparece, primeiramente nesse mais recente sentido , nos palácios e cortes. Posteriormente, a partir do século XIX, tende a se tornar mais tangível para as classes menos abastadas no Primeiro Mundo. O estilo Biedermeier - tentativa alemã para a popularização do mobiliário e de sua industrialização - é nesse aspecto extremamente revelador. Mas é apenas a partir deste século XX que ela passa a existir em larga escala. Tornou-se uma verdadeira necessidade. Desdobrou-se, além do mais, no paisagismo.Pari passu com o surgimento dos decoradores surgiram os designers. São inúmeros os exemplos, no entanto, mesmo num texto curto como esse não posso esquecer o nome de Thomas Chippendale no século XVIII. Dedicavam-se, como até hoje o fazem, aos projetos-designs- de peças, objetos,etc.A maioria das pessoas tende a confundir, segundo minhas observações, a figura do decorador a do designer, por isso insisto em tentar estabelecer essa diferença. O designer resolve elementos individuais, peças, objetos etc, não espaços. O decorador, como afirmei acima, tentará dar harmonia a combinação de difrentes peças, criadas por diferentes designers, em diversos períodos históricos. Esta sua arte. Nada fácil.Aos decoradores, designers e paisagistas duas observações me parecem interessantíssimas . A clássica e generalizada afirmação : "Mas isto é apenas um detalhe" me ocorre a máxima : "O diabo, é¨ que Deus está nos detalhes"; e a segunda, de um decorador de fala inglesa, que numa tradução livre diz mais ou menos assim: "o decorador deve estar constantemente educando seus olhos atrtavés de visitas a museus, do olhar para pinturas, esculturas, livros, revistas, móveis, edifícios,etc.". Parece-me um bom conselho, pois "os olhos" precisam ser educados.Por Josino MoraesLatin America Economic Researcher

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